O Volkswagen Voyage
acaba de passar por sua primeira mudança significativa
desde que chegou à segunda geração, em 2008. Trata-se da renovação de
meia-idade, antes que uma nova transformação técnica e visual o lance a
uma nova etapa. À sua linha do tempo, que começa com o lançamento, em
1981, tem a primeira reestilização acompanhada de novos motores em 1987,
novo retoque visual em 1991, aposentadoria em 1996, ressuscitação em
2008 e mais de um milhão de unidades vendidas, já se pode incluir a
placa preta – o maior troféu para um carro de coleção.
Com 99,5% de originalidade, Voyage LS 1981 conquista placa preta (Foto: Camilo Fontana/G1)
O fotógrafo e comerciante Camilo Fontana, de Curitiba, conseguiu o
reconhecimento para o modelo LS 1981 na cor Verde-Álamo. Ele diz que
gosta mesmo é de carros simples, e não tanto de superesportivos e carros
de luxo. “O Voyage fez parte da vida de muitas famílias, levou muita
gente para passear. Todos conhecem Cadillacs por causa de filmes,
músicas e fotos, mas um carro simples assim as pessoas viram nas ruas,
fazendo parte da vida mesmo, não dos sonhos”, explica o colecionador.
Quanto ao estado de conservação, sedã atingiu 96,5% (Foto: Camilo Fontana/G1)
Prova do gosto de Fontana por carros mais acessíveis é a sua frota de
antigos, composta por outros representantes da indústria nacional: Ford
Corcel II e os Volkswagen, Parati e Saveiro – os dois últimos da família
Gol, mostrando que o colecionador tem mesmo uma paixão pela linha. Até
na hora de escolher um importado Fontana preferiu um exemplar simples,
como o russo Lada Laika. Apenas o Voyage, no entanto, em placa preta – à
Parati, conta Fontana, só falta idade.
1º Encontro
Chegar ao Voyage não demorou muito. Dono de uma Parati restaurada com
as próprias mãos, Fontana queria aumentar sua família de carros da linha
Gol, que tem linhas “simples e marcantes”, na sua opinião. O desejo
pela primeira geração desses modelos era tanto que Fontana ia
fotografando os diversos exemplares que encontrava pela rua, até que em
um dia de março de 2010, pelo retrovisor do seu carro, encontrou o
modelo das fotos.
Versão LS era a intermediária da época (Foto: Camilo Fontana/G1)
“Comprei do 2º dono. O cara gostava do carro, quase chorou quando fui
buscá-lo. Como ele mora perto de casa, às vezes passo lá para dar um
oi”, se solidariza Fontana.
99,5% de originalidade
Com o carro em mãos, o colecionador se apressou em tirar a tão desejada
placa preta. Engana-se, no entanto, que foi preciso restaurá-lo para
conquistar a certificação. “O carro não foi restaurado. Nada. Nem
interior, mecânica, lataria, bancos...só recebeu um polimento e uma boa
limpeza”, explica.
Atualmente, o Voyage está com 76 mil km rodados e tem muitas peças de
desgaste natural originais ainda , segundo o proprietário. Juntas de
tampa cabeçote, cabos de vela, distribuidor, vidros, rodas e até um
estepe sem uso. Assim, não foi difícil conquistar a placa preta: dos 80%
de originalidade mínimos para ganhar a nova identificação, o Voyage de
Camilo obteve 99,5%. O meio ponto porcentual? “Ele tem apenas uma
bateria selada, enquanto na época eram baterias com manutenção. Isso me
tirou o 0,5% que falta para os 100% de originalidade”, se orgulha
Fontana. Em relação à conservação, o sedã atingiu 96,5%.
Modelo mantém estado impecável também no interior (Foto: Camilo Fontana/G1)
Coroação de um projeto pessoal, o Voyage de Fontana já conquistou seu
primeiro prêmio dentro do antigomobilismo. No último dia 22, durante o
encontro de carros antigos de Antonina (PR), o sedã foi eleito o melhor
automóvel dos anos 80.
Aprecie com moderação
O uso do Voyage, no entanto, é restrito. Fontana prefere não correr
riscos com possíveis acidentes ou furtos, que segundo ele têm aumentado
em Curitiba. “Seria falta de respeito com o carro arriscar tanto assim’,
filosofa o dono do sedã. Mas, quando coloca o carro para rodar – aos
finais de semana ou para participar de encontros de carros antigos –, vê
sua dedicação recompensada: “São impressionantes o torque e o silêncio
do carro. É mais fácil escutar o rolamento dos pneus do que o motor
funcionando a 80 km/h. Gosto também da leveza da direção e os engates do
câmbio”.
Linhas retas prevaleciam nos anos 80 (Foto: Camilo Fontana/G1)
Apesar das viagens e novas amizades conquistadas ao lado do Voyage,
Fontana não descarta a possibilidade de vendê-lo, “dependendo da
proposta”. E aos interessados em ingressar na aventura do
antigomobilismo, ele deixa um recado: “Para ser colecionador não precisa
nem ter carro. Ter o espírito de colecionar, preservar e historiar,
pesquisando e divulgando informações sobre os modelos, já ajuda na
preservação dos carros”.
O Voyage LS 1981 de Fontana ainda com a placa amarela (Foto: Camilo Fontana/G1)
O Voyage de Camilo é considerado o primeiro a conquistar placa
preta. Mas não há como ter certeza: a falta de um órgão centralizador
que reúna todos os certificados impede que se tenha registro de todos os
veículos com placa preta no país. Segundo a Federação Brasileira de
Veículos Antigos (FBVA), há o pedido de um C.O. para um Voyage LS 1982,
do Rio de Janeiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário